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O que aconteceria se chuvas extremas tão fortes quanto as que caíram no Rio Grande do Sul, em 2024, no litoral de São Paulo, em 2023, ou na região serrana do estado do Rio de Janeiro, em 2022 e 2011, atingissem a capital carioca, uma cidade com mais de 6 milhões de habitantes, com pelo menos 475 mil pessoas vivendo em áreas de risco para enchentes ou deslizamentos?

Foi essa pergunta que guiou a elaboração e o desenvolvimento do projeto Rio 60ºC – Como a cidade se prepara para eventos climáticos extremos. Com apoio do Pulitzer Center e do Instituto Serrapilheira, uma equipe multidisciplinar formada por colaboradores da Ambiental Media e do grupo de pesquisa RioNowcast+Green (Instituto de Computação/Universidade Federal Fluminense) entrevistou cientistas, moradores, além de representantes de órgãos de governo, e se debruçou em dados, estudos e reportagens para entender os riscos que as mudanças climáticas trazem aos cariocas. Nesta primeira fase do projeto, o foco foi um dos desdobramentos mais mortais do aquecimento global, especialmente em uma cidade litorânea com a geografia repleta de morros, rios e lagos como o Rio: eventos de chuva extrema cada vez mais intensos e frequentes.

Objetivo

Para entender e alertar sobre os riscos decorrentes de chuvas fortes, a equipe do projeto Rio 60ºC trabalhou em três iniciativas diferentes. A primeira foi uma extensa análise de dados para mapear as regiões mais vulneráveis às chuvas fortes na cidade. A segunda foi identificar e ilustrar uma série de medidas a serem tomadas pelas comunidades e, principalmente, pelo poder público para reduzir os riscos de desastres. Por último, repórteres colaboradores foram a campo e entrevistaram moradores e especialistas para saber como as mudanças climáticas já impactam a vida das pessoas, em particular os trabalhadores.

Nos próximos parágrafos, detalhamos as técnicas e os métodos utilizados nessa primeira iniciativa, a de mapear a vulnerabilidade a chuvas fortes no município do Rio de Janeiro. Vale ressaltar que o objetivo, por ora, não é fazer previsões meteorológicas, mas identificar o impacto potencial das chuvas.

Metodologia

A metodologia se baseou em um levantamento bibliográfico de índices de suscetibilidade e vulnerabilidade a eventos climáticos extremos no Rio de Janeiro e em outras partes do mundo. Esse levantamento levou em conta trabalhos produzidos por órgãos governamentais – como o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), do governo federal, e o Instituto Pereira Passos, ligado à prefeitura do Rio de Janeiro – e pesquisas publicadas por universidades e institutos mundo afora.

Depois, buscou-se dados brutos de diferentes indicadores ambientais e sociais para o município do Rio de Janeiro disponibilizados em bases científicas e governamentais. O índice utiliza os dados mais atualizados possíveis disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Serviço Geológico do Brasil e Data.rio, portal de dados abertos da cidade do Rio de Janeiro.

Os dados foram organizados em duas camadas de indicadores principais: suscetibilidade ambiental e vulnerabilidade socioeconômica.

Para padronizar o formato dessas duas camadas resultantes, os dados geoespaciais foram convertidos para um formato raster, tomando como base o Modelo Digital de Elevação do projeto Aster. Esse processo foi realizado por meio de um script rodado no Google Earth Engine. Posteriormente, os resultados foram vetorizados e disponibilizados através de mapas no Mapbox para a visualização de dados espaciais.

Suscetibilidade ambiental

A camada de suscetibilidade socioambiental foi construída a partir das Cartas de Suscetibilidade a Movimentos Gravitacionais de Massa e Inundações desenvolvidas e disponibilizadas pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB). Essas cartas mapeiam os municípios brasileiros em maior risco e definem áreas do território com suscetibilidade alta, média ou baixa a inundações ou movimentos de massa (deslizamento). Entre os dados utilizados pelo SGB estão “hipsometria, declividade, padrões de relevo, dados hidrológicos e, ocasionalmente, litologias”.

Os mapas desenvolvidos pela Ambiental contemplam os três diferentes graus (alto, médio e baixo risco) numa escala de cor que vai do cinza ao lilás.

Vulnerabilidade socioeconômica

A camada de vulnerabilidade socioeconômica foi construída a partir de dados sociais e censitários disponibilizados pelo Instituto Pereira Passos no site Data.rio, ligados à prefeitura do Rio de Janeiro, e pelo IBGE. Os indicadores analisados para compor essa camada foram:

  • • taxa de analfabetismo de 10 a 14 anos;
  • • rendimento médio do responsável pelo domicílio;
  • • total de domicílios ocupados; população total;
  • • densidade populacional; percentual de domicílios imputados;
  • • média de moradores por domicílio;
  • • total de domicílios;
  • • total de domicílios particulares;
  • • total de domicílios coletivos.

Foi necessária uma etapa de normalização dos indicadores para estabelecer heterogeneidade entre as diferentes escalas dos dados. Esse cálculo foi feito levando em conta cálculos semelhantes publicados em periódicos científicos (Santos et al., Sena et al. e Marinho et al). Depois, fez-se uma análise de correlação: os indicadores que apresentavam correlação com outros indicadores foram eliminados e os restantes, somados.

A camada apresenta uma escala de cor que vai do mesmo cinza utilizado na suscetibilidade a laranja. Quanto mais forte o laranja, mais socioeconomicamente vulnerável é a população que vive na área.

Vulnerabilidade a chuvas extremas

Os desastres decorrentes de chuvas extremas acontecem quando há população vivendo em uma área ambientalmente suscetível a deslizamentos ou inundações. Portanto, depois de produzidas as camadas de vulnerabilidade socioeconômica e de suscetibilidade ambiental, elas foram mescladas digitalmente pelo modo de multiplicação.

O resultado dessa mesclagem é uma escala de cor bivariada. Nesse caso, a cor vermelha é o resultado da mesclagem por multiplicação do lilás e do laranja. Ela indica onde vivem as pessoas mais vulneráveis aos desastres.

Domicílios particulares em áreas de vulnerabilidade

Com as camadas dispostas no mapa, partiu-se para uma análise da distribuição da população nessas áreas. Para isso, considerou-se a localização geográfica dos domicílios particulares como disponibilizada pelo Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos do Censo de 2022, do IBGE.

De acordo com a localização, a cada endereço foi atribuído um valor referente ao índice de vulnerabilidade socioeconômica e ao de suscetibilidade a inundações ou deslizamentos. No caso da vulnerabilidade, os endereços foram distribuídos em três faixas de vulnerabilidade: alta (3), média (2) e baixa (1) e a calibragem dos valores de cada faixa foi feita de forma que cada uma contivesse a mesma quantidade de endereços. Para a suscetibilidade a inundações ou deslizamentos, foi respeitada a classificação original feita pelo SGB: alta (3), média (2) e baixa (1).

Por fim, para chegar na vulnerabilidade a chuvas extremas, somou-se os valores das faixas de suscetibilidade com as de vulnerabilidade, de modo que cada endereço caiu, necessariamente, em uma de cinco faixas: muito baixa (2), baixa (3), média (4), alta (5) ou muito alta (6). Por exemplo: um domicílio em uma área de alta (3) vulnerabilidade socioeconômica e alta (3) suscetibilidade a deslizamentos vai ser classificado em muito alta (6) vulnerabilidade a chuvas fortes. Para que não fossem contados duas vezes no índice de vulnerabilidade a chuvas, 840 endereços que pontuam em alta vulnerabilidade a inundações e a deslizamentos foram subtraídos do cálculo final.

Uma parte dos domicílios particulares listados no Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (cerca de 57 mil, ou 1,9%) não correspondem a nenhum valor do índice de vulnerabilidade socioeconômica. Isso acontece porque o índice possui algumas lacunas por falta de dados. Os números são, portanto, subestimados.

Sobre a Ambiental

A Ambiental se dedica ao jornalismo investigativo baseado em ciência e dados. Mergulhamos na melhor ciência disponível sobre os temas mais relevantes para trazer à tona dados e evidências que fazem a diferença na vida das pessoas. Acreditamos no jornalismo como ferramenta de alerta e conscientização sobre a emergência climática e de defesa dos biomas brasileiros e suas formas de vida, inclusive a humana.

O olhar único da Ambiental se transformou em assinatura reconhecida por premiações relevantes. Entre nossas reportagens de destaque está o Aquazônia, por meio do qual criamos o Índice de Impacto nas Águas na Amazônia (IIAA), reportagem vencedora de seis prêmios de jornalismo, tendo sido eleita a melhor visualização de dados do Brasil (Prêmio Cláudio Weber Abramo), da América Latina e uma das melhores do mundo (pela Wan-Ifra, Associação Mundial de Publishers de Notícias).

Pela proximidade com a ciência, o trabalho da Ambiental também serve de fonte de informação para outros jornalistas e veículos de jornalismo, tendo sido replicado ou repercutido por alguns dos principais veículos de imprensa do Brasil e do mundo, entre eles, The Guardian, Folha de São Paulo, Estadão, O Globo, Valor, National Geographic Brasil, BBC Brasil, Mongabay Internacional e outros.

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Sobre o RioNowCast+Green

O grupo de pesquisa RNC+Green é coordenado pela Profa. D.Sc. Mariza Ferro no Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense e dedica-se ao estudo e aplicação de modelos de Inteligência Artificial (IA) para mitigar os impactos das mudanças climáticas no município do Rio de Janeiro. Um dos principais focos do grupo é o desenvolvimento de modelos de IA sustentáveis para a previsão de chuvas extremas, utilizando dados provenientes de diversas fontes, como estações telemétricas, pluviômetros, radares e radiossondagem.

Além de buscar maior precisão na previsão de chuvas intensas com poucas horas de antecedência (nowcasting), o projeto prioriza o uso de modelos computacionalmente eficientes, que demandem menos recursos energéticos e, consequentemente, reduzam a emissão de CO₂ equivalente e o consumo de água, minimizando o impacto ambiental. O grupo também se compromete a divulgar os custos de treinamento dos modelos, promovendo transparência e conscientização sobre a importância de se avaliar esses aspectos.

Outra frente de pesquisa do RNC+Green é a definição do que constitui um evento climático extremo para o Rio de Janeiro, considerando as particularidades de suas diferentes regiões e bairros. Entre os objetivos do projeto está o desenvolvimento de um Índice de Vulnerabilidade a Chuvas Extremas (IVCE), que integrará fatores sociais, econômicos, de infraestrutura urbana e ambientais. Esse índice sintetizará diversos componentes para identificar, caracterizar e analisar as vulnerabilidades da população diante de eventos de chuvas extremas, contribuindo para a criação de políticas públicas mais eficazes.”

Equipe Ambiental Media

  • Direção e concepção: Thiago Medaglia
  • Coordenação editorial: Miguel Vilela
  • Análise de dados espaciais: Felipe Sodré
  • Desenvolvimento: Lucas Alves
  • Design: Sofia Beiras
  • Mapas: Laura Kurtzberg e Lucas Alves
  • Reportagem:
    Felipe Migliani
    Fernanda Calé/Agência Lume
    Wellington Melo/Agência Lume
    Douglas Teixeira/Agência Lume
  • Texto de abertura: Xavier Bartaburu
  • Ilustrações: Luiz Iria
  • Operacional: Leticia Helena Prochnow
  • Assessoria de Imprensa: Helena Portilho
  • Redes Sociais: Samantha Prado
  • Gestão de Projeto: Michelle Flores
  • Edição: Fernanda Lourenço
  • Equipe RioNowcast+Green

  • Coordenação e concepção de pesquisa: Mariza Ferro
  • Pesquisadora de Pós-Doutorado: Alice Ratton
  • Pesquisadores e alunos de Iniciação Científica*: João Rezende
    Rafaela Abrahão

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